E o mundo não se acabou

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A história do anúncio do fim do mundo vem de priscas eras. O ser humano por ser o único do reino animal, que sabe que vai morrer, vive em constante sobressalto, alarmado e no aguardo da chegada dela, a temida morte, que é apresentada de diversas maneiras, algumas das quais caricaturadas e travestidas em figuras bastante estranhas e exóticas. Já na Bíblia encontra-se notícias alarmantes do fim do mundo, como aconteceu com Sodoma e Gomorra, condenada e destruída por divina obra. Salvando apenas Ló e suas duas filhas, com Yldith, sua esposa, curiosa, que, por voltar-se, para ver o final da cidade, desobedecendo a recomendação de não se voltar, imediatamente transformou-se em estátua de sal. Nostradamus com seu livro as Profecias, se encarregou de deixar todos assombrados. Orson Welles, ator famoso dos Estados Unidos, proclamou em um programa de rádio que o mundo ia se acabar, amedrontando muitos. Foi uma verdadeira correria. No Brasil, onde nada é levado a sério, o fato chegou a ser motivo de blague em música composta pelo baiano Assis Valente, satirizando o acontecimento. Em 1947, Joaquim e Ponciano Souto, parentes de Paulo Souto, antigo governador da Bahia, estavam em Vitória da Conquista em companhia do velho Arsenio Viana, homem de cultura mediana e muita verve, quando Ponciano chamou a atenção deles para um livro escrito por um tal de Agapito, onde estava anunciando o fim do mundo para o ano  de 1948. Todos emitiram preocupação pelo fim do mundo, menos Sr. Arsenio. Quando solicitada a sua opinião, replicou: “Este Agapito é um nego besta”. A fotografia que ilustrava a capa do livro trazia a imagem de Agapito, um negro retinto. Naquele tempo não havia o patrulhamento idiota da atualidade, onde tudo é considerado censura, descriminação, racismo, preconceito e outros posicionamentos idiotas. Agora, todo o noticiário se encarrega de apresentar um maluco que conseguiu convencer alguns incrédulos, que o mundo iria se acabar no dia 12 de outubro. Foi preso e quase linchado pela população revoltada (seria pelo mundo não ter realmente se acabado, ou pelo vigarismo do autor?). A mente humana é muito frágil e altamente sugestionável. Dr. Afonso Alves, concluiu sua fragilidade ao definí-la como tão fina que seria difícil separar a distancia da lucidez para insensatez. Talvez aí se explique o domínio de multidões por visionários, podendo ser considerados loucos mesmos, como Hitler, Mussolini, Stalin, Mao, e tantos outros, inclusive o insano Antonio Conselheiro, que no final do século XIX, prometia que o mar viraria sertão e este transformar-se-ia em mar com achegada de um Messias. O final é do conhecimento de todos: o Messias não apareceu para salvar o sertanejo, o sertão continuou como antes e o mar também. Euclides da Cunha narrou com brilhantismo toda a saga de Monte Santo, (Canudos) na Bahia. Recentemente o peruano, nobel de literatura, Mário Vargas Llosa, lançou o livro A Guerra do Fim do Mundo, onde se revive a visão  do Conselheiro. Os terroristas jamais deixaram de insuflar o medo de o mundo se acabar. Para muitos o aquecimento global derreterá o gelo polar aumentando o nível dos mares, o que cobrirá a nossa Alcobaça, bem como muitas das mais belas cidades brasileiras. Sem falar dos outros países. Segundo esses Tirésias, Londres, a Flórida, Los Angeles, Nova York, a Indonésia, com suas mais de vinte mil ilhas, sossobrarão na imensidão das águas que virão da calota polar derretida. Os Agapitos viosionários não deixarão de abastecer a mente dos incautos, com notícias que sentido algum fazem, aproveitando da ignorância e crendice dos mais fracos. Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler, dizia que uma mentira repetida muita vezes se transformava em verdade. No Brasil atual, o Supremo Tribunal Federal concluiu que a mentira repetida de que não houve mensalão, ao contrário, não se transformou em verdade. O mensalão houve, e causou estragos, sem contar os desvios, roubos de dinheiro público. As condenações virão, com certeza. Quiseram, anunciaram, tentaram mostrar que o mundo iria se acabar no Brasil com a corrupção. E o mundo não se acabou. Há um adágio popular que a mentira tem pernas curtas. Aguardemos, portanto, o próximo anúncio de um profeta qualquer, da data em que o mundo irá se acabar. Basta esperar, estando o mundo muito pequeno, interligado por todos os meios de comunicação, facilmente tomaremos conhecimento da data em que o mundo se acabará. Será apenas uma questão de tempo. Malucos nefelibatas é o que não faltam. Teixeira de Freitas, 16 de outubro de 2012. *Ary Moreira Lisboa é advogado e escritor.