Delegado Sanney Simões indicia apenas um dos quatro vigilantes da Garra pela morte de “Hique” em Mucuri

503

O delegado Sanney Simões, titular da Polícia Civil no município de Mucuri, concluiu, na manhã de sexta-feira (30/09), o inquérito policial sobre o confronto entre três lavradores e quatro vigilantes da Garra Escolta Vigilância e Segurança LTDA., empresa prestadora de serviço à Fibria Celulose S/A., em que no final da manhã de quarta-feira do dia 17 de março 2010, em meio a um plantio de eucalipto, nas imediações da Praia dos Coqueiros, na região do balneário de Costa Dourada, no litoral sul do município de Mucuri, o operário Henrique de Souza Pereira, o “Hique”, 24 anos, foi morto com um tiro no olho esquerdo que transfixou a nuca. O pai dele, Osvaldo Pereira Bezerra, “Osvaldinho”, 53 anos, teve o braço esquerdo quebrado, já o cunhado da vítima, Romildo Santos Conceição, 24 anos, saiu ileso da ofensiva porque conseguiu desvencilhar do cerco e fugir.

Após a ocorrência, os seguranças teriam deixado o local no Fiat/Uno HIB-9562 e voltaram cerca de 40 minutos depois na companhia de outros dois vigilantes, desta feita com uma ambulância, e levaram o corpo do jovem de onde ocorreu o confronto, sendo que as vítimas teriam sido flagradas pelos vigilantes serrando toras de eucalipto indevidamente do plantio da Fibria Celulose S/A. O pai da vítima disse que o filho morreu na hora, mas os vigilantes prestaram socorro dizendo que o rapaz ainda estava vivo. Na época do episódio, o fato provocou revolta na população onde o rapaz morava, inclusive com perseguição a um carro da Garra e principalmente em Itabatã, onde os autores do crime se apresentaram a Polícia Civil. Na ocasião, as empresas de celulose haviam apertado a fiscalização contra os moradores da região, na tentativa de coibir furtos de madeiras nas suas florestas de eucalipto.

O delegado Sanney Simões conclui o procedimento depois de 18 meses de trabalho, tendo, inclusive, realizado a reconstituição do crime com a participação de todos os envolvidos no dia 21 de abril de 2010, e exumação do cadáver no dia 4 de maio de 2010, para que não houvesse dúvidas sobre os fatos no inquérito. O delegado Sanney Simões decidiu não indiciar os vigilantes Willian Dias da Hora, 25 anos, e Benedito Soares de Souza, 29 anos, por não terem participado efetivamente do confronto. O delegado também não indiciou o vigilante Paulo Souza Falcão, 40 anos, autor da pancada que quebrou o braço de “Osvaldinho”, porque ficou provado no decorrer das apurações que o vigilante teria agido com certa prudência, não fazendo uso da arma de fogo que usava e apanhando um pau para se defender de “Osvaldinho” que estava armado com um facão.

O delegado Sanney Simões decidiu indiciar apenas o vigilante Alexandre Santos Silva, 35 anos, autor do disparo fatal e motorista de uma das viaturas da Garra. Embora o seu indiciamento foi com base no Artigo 121, § 3.º e § 4.º do Código Penal Brasileiro, por crime de homicídio culposo, com qualificadora no culposo, quando o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato. Ou seja, o delegado entendeu que o vigilante agiu em defesa própria, tendo vista que ficou provado que o vigilante atirou caído ao chão, após ter tropeçado quando andava de costas fugindo do operário que lhe enfrentava com um motosserra ligado.

Diante dos fatos, inclusive das provas científicas, o delegado Sanney Simões indiciou o Alexandre Santos Silva, 35 anos, em crime de homicídio culposo, porque ficou evidenciado que ele não tinha a intenção de matar, além disso, buscou ajuda para socorrer a vítima e na sequência se entregou a Polícia Civil da comarca. Embora o delegado tenha concluído o inquérito e definido sua convicção sobre os fatos, ele disse que só remeterá o procedimento à justiça, após a chegada do último laudo pericial que ainda falta juntar, proveniente do Departamento de Polícia Técnica de Salvador, sobre os exames de pólvora combusta nas mãos dos vigilantes.

Entretanto, diz o delegado Sanney Simões, que o seu entendimento independe do resultado do exame, porque acredita que muito raramente o laudo vai mudar os resultados já produzidos no inquérito, porque se espera que o efeito seja positivo apenas na mão do vigilante Alexandre, que assumiu a culpa desde o primeiro momento. “Mas, como a prudência é mãe da perfeição, vamos então aguardar a chegada do último laudo científico, para, tão-somente, remetermos o devido inquérito e esclarecermos o caso a justiça”, disse. Por Athylla Borborema.